Cidadania e Justiça

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Policial militar, profissão de alto impacto emocional

A Polícia Militar de Goiás tem em suas fileiras um efetivo de cerca de 11.877 policiais, dentre homens e mulheres, no serviço ativo. No desempenho de suas atividades, o policial militar trabalha sob a influência dos mais diversos fatores estressantes. Seu constante envolvimento com diferentes tipos de ocorrências propicia uma exposição a situações de risco. A oscilação do ritmo emocional do policial militar também é proporcionada pela necessidade de sempre corresponder positivamente à realização de seu dever. Ou seja, não lhe é permitida nenhuma margem de erro no desempenho de suas funções. A sociedade, por vezes, tolera pequenas falhas de um profissional, desde que ele não atue na segurança pública.
Convém considerar o desgastante trabalho policial como fator desencadeador de distúrbios psíquicos. Constantemente, o talento, a capacidade de trabalho, a paciência, o bom humor e a obstinação do policial são levados ao limite. Muitos policiais podem adquirir gravíssimos problemas no exercício de suas atividades funcionais e, inegavelmente, também com as demais questões atinentes a todo ser humano.
O policial militar também pode sofrer desmotivação pela dificuldade em obter promoções na carreira. O escritor Alfie Kohn afirma que os psicólogos apontam diferentes tipos de motivação. O primeiro é a intrínseca, segundo a qual a pessoa adora o seu trabalho pelo que ele é. A segunda é a extrínseca, que a levaria a fazer alguma coisa porque vai receber algo em troca (Revista Exame, 13/12/2000).
O médico Marcelo Dratcu, gestor de Sistemas de Saúde pelo Gallilee College e pesquisador na área de terapia cognitivo-comportamental ressalta que, se uma pessoa reduz suas condições de trabalho, prejudica a empresa e a si mesma. A busca pelo sucesso e pelos resultados dentro de uma empresa é um fator estressor para qualquer profissional. E o que pouca gente sabe é que tanto a produtividade quanto a ascensão profissional estão totalmente ligados ao bem-estar físico e mental do indivíduo (Gazeta Mercantil – Alexandre Staut, SP, 18/02/2008).
Uma das últimas funções que exerci antes de passar para a reserva remunerada foi na Diretoria de Saúde da PM/GO, onde observei de perto a luta desses profissionais. Conheci seus esforços, desde os recepcionistas aos médicos, enfermeiros, odontólogos, psicólogos, assistentes sociais e nutricionistas e demais integrantes. Até o presente, ainda acompanho a trajetória profissional de muitos servidores da saúde, desde que ingressaram no serviço policial militar.
Duas áreas essenciais a esse serviço que lidam diretamente com os problemas psicossociais, decorrentes do alto impacto emocional acarretado pela natureza do serviço, são o Departamento de Serviço Social e o de Psicologia. A major Vânia e a major Mirian respondem, respectivamente, por essas áreas. Existem apenas duas oficiais nessas especialidades, da safra de oficiais aprovadas em concurso público há mais de quinze anos. Oficiais prestigiadas e reconhecidas pelo trabalho que desempenham, granjearam o respeito e admiração de toda a tropa, desde as praças ao comando da corporação. Em toda empresa, seja pública ou privada, esses setores são indispensáveis, na medida de sua expansão. Qual o seguimento que se espera nesses setores se os quadros organizacionais da PM não estão completos? Somente pela admissão de novos oficiais, haverá uma continuidade dos setores especificados.
A gloriosa e sesquicentenária PM de Goiás, para fazer frente a uma demanda crescente na atenção à saúde do policial militar e de seus familiares, precisa urgentemente da realização de um concurso público para preenchimento das vagas existentes nos diversos quadros de profissionais de saúde. Eis uma bandeira a ser erguida por toda a família miliciana: “Concurso público já” para preenchimento das vagas já existentes nos quadros organizacionais da polícia militar de Goiás. Investir na saúde do policial militar, um investimento seguro em favor de todos os que lutam pela paz e pela justiça social.
Francisco de Assis Alencar é cel. PMR

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