Tem gente que acha, até entre os que envergam a farda da gloriosa, que policiais militares são super-humanos, confundindo-os com máquinas telecomandadas, tipo andróides ou robôs, 24 horas no ar. As suas vistas embaçadas não deixam que percebam nos homens atrás das fardas seres humanos comuns, com direito a todas as emoções e também aos erros, capazes de ajudar no crescimento humano e profissional. Acham esses idealizadores que os PMs devem ser formados nas planilhas de algum cientista maluco, espécies de clones da raça ariana idealizada pelo nazismo de Hitler. Diariamente lemos matérias de gente famosa, aqui mesmo no DM, que apresentam conceitos simplistas sobre a segurança dos cidadãos. Colocam suas teorias no papel sem nada entenderem do assunto. Segurança Pública, conforme a Constituição Federal de 1988, é direito e dever de todos os cidadãos, portanto não somente uma exclusividade dos órgãos policiais. Um novo paradigma foi estabelecido a partir deste preceito constitucional, abrindo o leque da segurança pública para uma participação ampla onde estão inseridas as guardas municipais, os agentes de trânsito, as empresas particulares legalmente constituídas, e até mesmo o simples cidadão pode se transformar em eficaz agente da própria segurança com reflexos sobre a segurança coletiva. O legislador demonstrou sensatez e sabedoria, vez que está mais do que demonstrado que o poder público em qualquer esfera é insuficiente para o combate a criminalidade sem a participação dos seus cidadãos. Enquanto não houver uma consciência dos diversos segmentos sociais, públicos, privados e movimentos sociais, continuarão levando vantagem os políticos e administradores oportunistas.
Sinto-me autorizado a emitir parecer sobre o assunto, visto que durante toda a minha vida profissional, meus melhores anos foram dedicados justamente na preparação escolar e profissional de policiais militares. Preparar homens para o serviço policial militar é um verdadeiro sacerdócio. Retirados da própria sociedade, não há uma fórmula, um sinete em suas testas que identifique de pronto suas virtudes ou os seus vícios. Laboramos meses a fio, para, ao final dos períodos escolares, apresentarmos os pelotões de formandos dentro dos padrões mínimos exigidos, aparando-lhes as arestas indesejáveis.
Sou grato a Deus e aos companheiros da Polícia Militar pelos padrões que a corporação goiana desfruta, aqui mesmo e na esfera nacional. Somos uma das tropas mais prestigiadas do País, com um padrão salarial bem acima das coirmãs, portanto erram os que dizem que “a segurança pública está nas mãos de um efetivo cada vez mais sofrido e mal remunerado”. As melhorias são claras e evidentes. Atingimos na Polícia Militar uma qualidade de vida nunca vista em outros tempos. Praças e oficiais da PM goiana desfrutam hoje de estabilidade financeira e social. A grande maioria dos milicianos possui curso superior, a PM goiana conta em suas fileiras com profissionais qualificados nas mais diversas áreas do conhecimento. As condições de moradia e de locomoção melhoraram sensivelmente, dentro das condições financeiras adquiridas e com as facilidades dos prazos de financiamentos para aquisição de casas e de automóveis.
Um fato inegável no contexto nacional é a falta de integração e de padronização entre os diversos organismos policiais em nosso país, não somente em relação às Polícias Militares mas também e principalmente em relação às Polícias Civis, às quais competem legalmente a investigação e a formulação dos processos criminais. Isto sim é um grande problema, como foi noticiado esta semana: marginais comandando o tráfico de drogas de dentro da Casa de Prisão Provisória através do uso de aparelhos celulares. Não custa repetir: as falhas são conjunturais, estão afeitas a todo o sistema, desde o Judiciário, o Ministério Público, as Polícias Estaduais e Federais, o Sistema Prisional e ainda a uma legislação penal fora da nossa realidade, que assegura regimes semi-abertos sem uma estrutura mínima para a reintegração social dos reeducandos. Também os políticos em todos os níveis levam suas parcelas de culpas, pois afinal de contas são os responsáveis pela aprovação das leis. O melhor seria que todos admitíssemos “mea culpa”, pois “aquele que não tiver pecado” que atire a primeira pedra. Atribuir falhas, encontrar culpados e crucificar os responsáveis é fácil. O difícil é se colocar no lugar dos pecadores e fazer diferente.
Quem dá a forma e a transparência à Polícia Militar são os seus integrantes. Defenderei sempre que o Policial Militar precisa de um bem estar, físico, mental, psicológico, social, espiritual, para que possa corresponder às condições de trabalho exigidas. Não adianta colocá-lo na linha de frente para que desenvolva o seu papel junto a sociedade, se não houver um suporte na retaguarda. Eis onde entra a tropa de apoio, exercendo um papel tão importante quanto os integrantes da operacionalidade: o pessoal especializado dos quadros de saúde, médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas, enfim, todos profissionais indispensáveis para a saúde do policial militar e de seus familiares. Investir na saúde da tropa, completar as lacunas existentes nos quadros de saúde para que a gloriosa PM goiana, uma decisão que refletirá substancialmente na qualidade do serviço policial militar e na imagem da Corporação.Francisco de Assis Alencar é cel. PM R
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