Cidadania e Justiça

sábado, 23 de maio de 2009

Conversas de barbearia

Uma rotina de alguns anos: cortar o cabelo na barbearia do Jota e ouvir os muitos causos contados por ele e pelos fregueses que ficam esperando a vez. Desta feita a prosa girou em torno do roubo de carros, pois a barbearia fica nas proximidades das inúmeras lojas revendedoras de peças na vila Canaã. Foram relatados roubos de três camionetas nos últimos meses, sendo que apenas uma foi recuperada. Dois casos foram similares: os assaltantes espreitavam próximo às lojas da Av. Aderup. Assim que o motorista estacionou o veículo, ao descer para comprar algo no comércio, aproximaram-se de arma em punho, apoderando-se do veículo e das mercadorias que se encontravam no interior dos mesmos. Um dos proprietários conduzia no porta-luvas a importância de R$ 6.000,00 e vários cheques de clientes. Até o momento, não tiveram notícias dos assaltantes, dos veículos ou dos pertences roubados.
O Jota contou-nos um caso bastante significativo sobre o que ocorre no comércio de peças de veículos automotores, principalmente na Vila Canaã. Um conhecido seu de nome Jorge (personagem real, nome fictício) trabalhava com venda de peças de veículos há mais de quinze anos. Um dia o Jota questionou o Jorge: – Mas amigo, por que você não muda de veículo? Desde que te conheço, há anos que você não melhora de condução; até parece que casou para sempre com este fusquinha. Veja só: os seus concorrentes circulam por aí com carrões, camionetas e automóveis luxuosos. O Jorge saiu-se com esta: – Ah, meu irmão, nunca me atrevi a comercializar peças sem procedência. Negociantes insistem comigo todos os dias. Prefiro mudar de ramo a ter que entrar nesta dança. Encosto minha cabeça no travesseiro e durmo com a consciência em paz. Não tenho nada a temer. O Seu Jorge realmente preferiu mudar de ramo e continuar com a consciência em paz. A sua atitude serviu-me de inspiração para elaborar este texto.
A insanidade chegou a tal ponto que os honestos são obrigados a se retirar. A concorrência desleal, a pressão de todos os lados, até por parte dos fregueses que estão se lixando para a procedência da mercadoria. Roubo de carros, comércio ilegal de peças, tráfico de drogas e crimes correlatos, uma rede criminosa que termina sendo alimentada pela atitude ingênua do consumidor que busca facilidades e adquire produtos sem a devida comprovação de procedência.
E da parte do poder público, o que poderia ser feito? Somente uma operação conjunta envolvendo o Fisco, os órgãos de Trânsito municipais e estaduais, o Corpo de Bombeiros, as polícias Militar e Civil, o Ministério Público, os órgãos fiscalizadores do município, enfim, até a Polícia Federal deveria ser convocada, desde que o tráfico de drogas, o roubo de carros e o comércio ilegal de peças extrapolou as fronteiras estaduais.
O comércio de peças de veículos automotores se expande em ritmo alucinante. A impressão que fica é que não existe controle nem fiscalização. Estes dias passei caminhando por lá, fiquei horrorizado com o que vi. Carcaças de automóveis abandonadas em plena rua, impediam o fluxo normal do trânsito e atrapalhando a circulação dos pedestres. Aquilo ali dá medo. A história do Seu Jorge vem de encontro as certezas que guardo em meu coração: “Melhor é deitar, dormir e acordar com a consciência em paz.”
Francisco de Assis Alencar é cel. da PM

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