Cidadania e Justiça
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Segurança residencial: as lições de uma ocorrência trágica
Virou rotina a onda de assalto a residência seguido das mais diversas formas de abuso. Um dos últimos casos que tomamos conhecimento foi o seguinte: – A sexagenária Dona Jô (nome fictício) saía pelo portão principal de sua residência por volta das 6h30 para fazer a sua caminhada matinal. A cerca de uns 20m foi abordada por dois indivíduos, um deles menor de 18 anos, que lhe perguntaram se conduzia algum dinheiro. Surpreendida com a dupla, Dona Jô achou que seria uma brincadeira de mau gosto. Saindo para uma caminhada com toda lógica não conduziria nem mesmo uma bolsa. Mas logo a seguir viu-se constrangida a retornar a sua residência na companhia dos indesejáveis. Ao transporem o portão de entrada, uma jovem saía da casa ao lado para iniciar mais um dia de trabalho. Percebendo o fato incomum, aproximou-se para cumprimentar sua vizinha, sendo também forçada a entrar na residência. No interior da residência dormiam sossegadamente a filha e a neta de Dona Jô. De arma em punho, os bandidos prenderam em um quarto as três mulheres: Dona Jô, sua filha maior de idade e a jovem vizinha. Reviraram toda a mobília procurando objetos de valor. De posse dos valores, inclusive em dólares, as vítimas foram surpreendidas pela crueldade dos tais, passando a sofrer abusos sexuais. Após cerca de uma hora, os meliantes apropriaram-se dos valores em dinheiro e joias, preparando-se para abandonar o local. Neste exato momento, os bandidos perceberam a presença da neta de Dona Jô, de 15 anos de idade. Após abusarem da menina, trancaram-na juntamente com a avó, a mãe e a vizinha no mesmo quarto e se retiraram do local. Dez minutos após se evadirem, um vizinho chegava de mais uma jornada de trabalho, recebendo o costumeiro bom-dia de um outro vizinho. Este senhor ouvira gritos de dentro da casa vizinha com pedido de ajuda. Dirigiram-se ambos para o portão da casa, constatando que o mesmo estava semiaberto. Adentrando na casa, perceberam que vários objetos se encontravam esparramados e as vítimas dentro do quarto continuavam pedindo ajuda. Ao abrirem a porta do quarto, aquele senhor deparou-se com a própria filha trancada juntamente com as vizinhas. Com a experiência adquirida ao longo dos anos, diante desta trágica ocorrência, devemos refletir e tirar lições que ajudem a evitar situações marcadas por tanta tragédia. Dona Jô em hipótese alguma deveria ter retornado a sua casa, pois a possibilidade de receber ajuda em plena rua e à luz do dia seria maior. A ação dos meliantes seria menos traumática mesmo que fizessem uso da arma e provocassem algum disparo. Também existiam na residência de Dona Jô alguns cães para vigilância, porém estavam presos no fundo do quintal. Se estivessem soltos, não permitiriam a entrada de estranhos e atrairiam atenção dos vizinhos. Alarmes sonoros conectados com telefones ou câmeras de vídeo poderiam contribuir para intimidar os bandidos. O portão automático, numa situação dessa, poderia ter sido acionado e conservado aberto para atrair a atenção dos transeuntes. O horário escolhido para a caminhada também é um fator a ser considerado. As estatísticas das ocorrências policiais demonstram que alguns casos de assaltos a residências ocorrem nas primeiras horas do dia. Por não terem o êxito esperado no decorrer da noite, esses meliantes escolhem de preferência casas com menor potencial de resistência, habitada por mulheres ou pessoas idosas, onde inexistem quaisquer obstáculos. O bom senso indica que, ao chegarmos ou sairmos de nossas casas, observemos bem a presença de estranhos nas imediações. Preferível que passemos ao largo, estendendo um pouco mais o percurso e só retornando na certeza de que está tudo bem. Hábitos saudáveis que ajudam muito na prevenção é o relacionamento com os vizinhos. O bom relacionamento e a comunicação com os vizinhos contribuem para criar uma rede de segurança. Até mesmo a saudação habitual e a conversa ligeira com vizinhos são sinais visíveis de boa vizinhança que podem desestimular possíveis abordagens por estes indivíduos. O fato narrado foi devidamente comunicado aos órgãos de segurança, o que ajudou muito na captura dos meliantes, ocorrido um mês depois por um acaso aparente. Um dos tais deslocava-se por um rodovia interiorana em companhia de uma mulher. Abordados em uma blitz da Polícia Militar, enquanto os PM conferiam a documentação do motorista e do veículo que estavam em dia, sua companheira deslocou-se ao banheiro, pretendendo ocultar uma arma de fogo que conduzia em sua bolsa. Pelo descuido e nervosismo do momento, a arma desprendeu-se da bolsa. Com o impacto da queda, ocorreu um disparo, que atraiu a atenção dos policiais. Submetidos à voz de prisão por porte ilegal, o condutor tentou subornar o PM com uma quantia tentadora. Conduzidos ao DP da localidade interiorana, mais uma vez tentaram subornar a autoridade policial. Feito contato com a delegacia da Capital devido também à posse de alguns valores em dólares, a autoridade policial encontrou vestígios que ligavam os meliantes à ocorrência de Dona Jô. A investigação prosseguiu até a prisão da dupla.Francisco de Assis Alencar é coronel da Polícia Militar
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